Presidida pela vereadora Guida Calixto, sessão solene homenageou quatro mulheres que se destacaram nos movimentos sindical e popular

Medalha Laudelina 16 09 1Foto: Reprodução | vídeo no canal da TV Câmara

Quatro trabalhadoras domésticas receberam a Medalha “Laudelina de Campos Mello” nesta quinta-feira, 16/09, em sessão solene da Câmara Municipal de Campinas. Em comum entre elas, além do pertencimento à categoria profissional, há o fato de serem ex-dirigentes do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas e de todas continuarem na busca pela melhoria das condições de trabalho e de vida das trabalhadoras e trabalhadores.

Duas delas foram indicadas para a honraria pela vereadora Guida Calixto (PT): Angelina Rosa Almeida e Eva Grecia dos Santos. As outras duas, Maria Oliveira Maminhaki e Maria Risanilda de Andrade, foram indicadas pelo ex-vereador Carlão do PT, no ano passado, quando a cerimônia de entrega foi cancelada devido à pandemia.

Além da vereadora Guida e das quatro agraciadas com a medalha, participaram da solenidade duas representantes da atual diretoria do Sindicato: Maria Aparecida Marcondes (coordenadora geral) e Domingas Cardoso de Souza Cunha (diretora executiva). A solenidade aconteceu presencialmente no Plenário José Maria Matosinho, com transmissão ao vivo pela TV Câmara.

Liderança histórica
Guida Calixto trouxe para a abertura da reunião solene um texto, sobre Laudelina de Campos Mello, que ela "fez questão" de ler. Segundo Guida, o exemplo de vida de Laudelina, que precisa ser lembrado, relembrado e reafirmado, encontra correspondência nas mulheres homenageadas com a medalha.

"Eu fiz questão de ler esse texto para a gente deixar registrada a história dessa mulher, Laudelina de Campos Mello, que foi uma liderança histórica, reconhecida internacionalmente pela sua trajetória, pela luta política que fez, pela sua militância. Eu fiz questão, porque muito da história de Laudelina a gente vê representado nessas mulheres que estão aqui, que hoje a gente homenageia", destacou a vereadora.

De acordo com a biografia, Laudelina de Campos Mello combateu, desde a década de 1930, "o preconceito e a discriminação contra as mulheres e a população negra no mundo do trabalho e na vida". Foi uma mulher engajada em movimentos populares, que "utilizava como estratégia de mobilização múltiplos eventos culturais, recreativos e políticos com a comunidade negra".

Entre as muitas lutas e conquistas dessa trabalhadora doméstica que defendeu o Brasil na II Guerra Mundial e, ferida, foi aposentada como ex-combatente, está a fundação da primeira Associação de Empregadas Domésticas, em 1936, na cidade de Santos. Na década de 1970, já morando em Campinas, atuou junto ao então deputado Chico Amaral na elaboração e aprovação do projeto de lei que estabelece o reconhecimento do trabalho doméstico como atividade profissional com direito à Carteira de Trabalho e Previdência Social.

Nos anos 1980, Laudelina ajudou na reestruturação da Associação das Trabalhadoras Domésticas, o que possibilitou a sua transformação em sindicato. Antes de falecer, em 1991, aos 87 anos, deixou a sua casa, na Vila Castelo Branco, para o Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Campinas e Região.

As homenageadas
De acordo com a divulgação feita pela vereadora Guida Calixto, as quatro trabalhadoras que recebem a Medalha Laudelina de Campos Mello em 2021 são:

Angelina Rosa Almeida: Nascida em Sabino (SP), Angelina "está em Campinas desde a década de 70, quando veio ao município trabalhar como doméstica. Em 1983 ingressou no movimento das domésticas e posteriormente transformou tal associação em sindicato, pelo qual participou de congressos e seminários como conselheira fiscal. Até hoje, permanece na luta pela valorização da classe trabalhadora".

Eva Grecia dos Santos: Natural de Iporanga (SP), Eva "começou no trabalho doméstico em Campinas em 1979. Anos depois entrou para o sindicato das domésticas e em 1994 começou a fazer parte da diretoria como conselheira fiscal. Mesmo aposentada, continua na busca pela melhoria das condições de trabalho dos trabalhadores".

Maria Oliveira Maminhaki: "Começou no trabalho doméstico aos 27 anos. Tornou-se sócia do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas em 1997, e em 2000 fez parte da direção desta instituição. Participa da comunidade e faz parte do grupo de mulheres da região do Campo Grande".

Maria Risanilda Andrade: Natural de Santo Amaro das Brotas (SE), "começou a trabalhar como doméstica aos 15 anos, sem carteira assinada, e foi conhecendo o Sindicato das Trabalhadoras Domésticas que descobriu seus direitos enquanto prestadora desse serviço. Ficou sócia e também fez parte da direção do sindicato, pelo qual participou de diversos congressos, assembleias e debates, sempre em defesa dos direitos dos trabalhadores de sua categoria".

Depoimento
Após o recebimento da medalha, as quatro homenageadas fizeram comentários de agradecimento pela honraria. Já quase no fim da sessão, o depoimento da Maria Risanilda emocionou as/os presentes. Veja alguns trechos:

"Eu não sabia que tinha meus direitos. A partir do momento em que eu conheci que eu tinha meus direitos e meus deveres, eu comecei a cumprir eles corretamente como me mandava a categoria, com nossos registros.

"Muitas das vezes a gente trabalhava sem registro e dizia assim 'ah, eu não tenho direito', e as patroas ali pressionando a gente e dizendo 'você não tem direito'.

"A gente não conhecia, não tinha conhecimento nenhum, eu mesmo fui uma destas, não tinha conhecimento nenhum, me escravizei em casa de patrão por muitos anos, e o patrão dizendo 'você não tem direitos, vai atrás dos seus direitos'".

"E eu, besta, não sabia. Aí, pura glória, uma hora eu encontrei a Dona Encarnação, dentro do ônibus, e nós duas conversando, fofoquinha de ônibus, e ela falou, 'não Maria, você tem sim, vamos lá no Sindicato'".

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