Mesmo o machismo mais sutil é violência, "ao impedir a mulher de ser uma pessoa livre para fazer as suas próprias escolhas", diz Lucimara de Jesus

Roda de conversa 2 25 09No domingo, 25/09, a roda de conversa foi no espaço da Maloca Arte e Cultura - Foto: Divulgação | página da Maloca

"Nós acreditamos que as rodas de conversa presenciais com as mulheres tem um efeito mais concreto, mais eficaz, onde cada uma conta a sua história e consegue identificar o início de um comportamento machista", afirma Lucimara de Jesus, organizadora da Roda de Conversa que aconteceu no último domingo, 25/09.

De acordo com Lucimara, que é coordenadora do Coletivo de Educação Popular Dona Maria e também do Coletivo de Mulheres Lideranças, as rodas de conversa acontecem, geralmente, com a presença apenas de mulheres, para que elas "se sintam à vontade para expor a sua vida, sua particularidade, sua intimidade. A presença masculina poderia inibir a mulher de desabafar, de expor aquele sentimento represado".

Mas ela defende que também sejam feitas rodas de conversa com a participação dos homens. Para ela, os homens também devem fazer parte desse processo, "para que eles descubram como foram criados, ou estão sendo criados, de uma forma que passam a entender a mulher como um ser inferior a eles".

Afirmando que muitos homens não sabem que praticam o machismo e que descobrem só quando essa situação se torna evidente, Lucimara argumenta que, embora as campanhas sejam muito boas para mostrar isso, "é o empoderamento das mulheres, a reação delas contra qualquer postura machista que é muito mais importante para fazer com que todos entendam de que forma estão sendo machistas".

Diferentes formas, todas violentas
"Tem aquele machismo sutil, que agrada a mulher, que se mostra preocupado e impede, de uma forma sutil e agradável, a mulher de fazer várias coisas, de correr atrás de seus objetivos, mantendo ela sob o 'efeito amélia', a boa dona de casa, a verdadeira dona de casa, para que ele seja servido sempre", explica Lucimara, lembrando que "a grande maioria aplica essa forma de machismo, que não deixa de ser uma forma violenta, ao impedir a mulher de ser uma pessoa livre para fazer as suas próprias escolhas".

Outra forma, segundo Lucimara, é a de "provocar a baixa autoestima da mulher, fazendo com que ela se sinta feia, rejeitada, de forma que ele consiga manipular a vida da pessoa". E há também, a violência das palavras, "os xingamentos, a violência verbal, que agridem o psicológico, que torturam o psicológico da mulher", destaca.

Ela conta ainda que, de acordo com a experiência e o conhecimento adquirido na "troca de histórias" com as participantes dos grupos, "depois vêm as agressões físicas, que, em muitos casos durante a pandemia, estão sendo agressões físicas seguidas de morte".

Divulgação
Para Lucimara, o melhor seria as mulheres participarem dos projetos e dos coletivos, para terem a possibilidade de "uma conversa, um desabafo" e buscarem uma orientação. "Quando elas percebem que têm essa possibilidade, elas realmente buscam um entendimento, buscam saber o que elas precisam fazer, como elas precisam agir também para entender das leis".

Informando que, de agora em diante, "as rodas de conversa serão contínuas e em lugares diferentes também, em outros projetos", ela revela outra proposta dos coletivos do Ouro Verde:

"Algumas das futuras rodas de conversa serão gravadas para poder compartilhar com mais pessoas, com mais projetos, mulheres e homens também, para que todos tenham conhecimento do que é a postura machista, do que é realmente ser machista e ir em frente com esse combate, para diminuir o impacto do machismo na nossa sociedade".

No último domingo, o encontro contou com a participação de integrantes do Coletivo de Educação Popular Dona Maria, do Coletivo Bassoli dos Nossos Sonhos e da Maloca Arte e Cultura, tendo como convidada especial a advogada Leila Cursino Batista, do Projeto Úrsula - Biblioteca Comunitária, localizado no Jardim São Judas Tadeu.

O Projeto Úrsula, criado por Leila Cursino, funcionou inicialmente como uma biblioteca móvel. Conforme o relato divulgado no @proj.ursula, depois, com a parceria do CRAS Satélite Íris I, passou a ter como sede um espaço no CRAS unidade II, do JD São Judas Tadeu - Rua Antónia Felisbino Frutuosa, 1074.

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