Movimento em apoio às Casas de Cultura de Campinas, realizado pelas redes sociais de 03 a 17 de setembro, tem avaliação "muito positiva"

15 dias 2Imagem: Reprodução | redes sociais - @emlutapelas_casas.de.cultura

(Texto atualizado em 21/09, às 17h30, para ajustes na redação)
"Foi só o estopim de diversas ações necessárias para que a cultura pare de pegar fogo, de ser incendiada - no sentido mais amplo -, para que as Casas de Cultura sejam compreendidas como espaços tão preciosos quanto hospitais, quanto escolas. Esses lugares da cultura precisam ser compreendidos de uma outra maneira", disse Tiche Vianna.

Em entrevista ao Informa Campinas, a atriz, pesquisadora e diretora teatral analisou a campanha "15 Dias de Ativismo pela Cultura de Campinas", as perspectivas de agora em diante e as relações entre agentes culturais da sociedade civil e a gestão municipal. A campanha foi realizada por produtoras e produtores culturais, agentes culturais e movimentos culturais de diversas regiões de Campinas e de São Paulo.

"A gente não pode esquecer que está debaixo de um governo que estimula a violência, estimula a perseguição, o preconceito. Então, as Casas de Cultura têm sofrido a ação de pessoas que se conectam com esse tipo de influência. Aí, muita pessoas que são produtoras artísticas, que são produtoras culturais, resolveram se unir para fazer um movimento em apoio às Casas de Cultura", explicou Tiche.

De acordo com ela, que foi uma das organizadoras e realizadoras da campanha - entre diversas outras pessoas ligadas a espaços culturais ou que usufruem das práticas culturais que as casas oferecem -, os incêndios nos arredores da Fazenda Roseira "foram só um disparador". Lembrando que a Fazenda Roseira chegou a sofrer dois incêndios em uma única madrugada, Tiche diz que, daí, o movimento surgiu "para dar visibilidade, para trazer à tona, para deixar no cotidiano das pessoas a informação de que 'olha, a cultura está queimando, a cultura está queimando'".

Avaliação positiva
Para Tiche, como a pretensão dos "15 Dias de Ativismo pela Cultura de Campinas" era dar visibilidade a "uma situação que Campinas vive repetidamente, reiteradas vezes, e que essas Casas vêm tentando encontrar soluções junto à gestão pública", desse ponto de vista "a campanha foi muito positiva, porque ela trouxe à tona essa preocupação mais emergencial".

Além disso, a campanha aproximou pessoas que trabalham com a cultura, mas que têm pontos diferentes de atuação. "De repente, todo mundo se volta para um lugar só e compreende que esse lugar é de todas essas pessoas", observa Tiche, destacando que "falar de uma Casa de Cultura é falar de todas as Casas de Cultura".

Ao mesmo tempo, a expressão "A Cultura está queimando" usada na campanha traz, segundo ela, a discussão da cultura para o contexto do desmonte do Estado promovido pelo governo federal na área, "e o quanto isso desarticula afetivamente, emocionalmente, politicamente e estruturalmente as relações sociais e institucionais. Neste quesito também essa campanha foi muito positiva".

Com relação ao envolvimento, entretanto, ficou aquém das expectativas, "porque são muitas as pessoas produtoras de cultura nessa cidade, são muitos os espaços e territórios, então isso leva muito tempo, não é da noite para o dia", avalia Tiche. Por outro lado, do ponto de vista de que esse foi "só o começo de um grande movimento que já vem acontecendo em várias áreas, inclusive graças à formação desse novo Conselho de Políticas Culturais, que tem um outro papel e que é representativo", então a campanha pode ser vista também como positiva.

Quanto à repercussão na cidade, embora muita gente tenha retornado, no decorrer dos 15 dias, falando da campanha, a avaliação é de que ainda não dá para falar em resultados, porque uma campanha não é um evento, ou um espetáculo. "Essa campanha deu o primeiro passo. Daqui a algum tempo, a gente vai saber se gerou frutos, que seriam os próximos passos", analisa Tiche, dizendo-se satisfeita, "por enquanto".

Comitê de Acompanhamento
Inicialmente, a campanha tinha se proposto a protocolar, ao final, uma carta ou manifesto em forma de abaixo-assinado dirigido às autoridades municipais. Mas, no decorrer dos 15 dias de ativismo, o entendimento foi de que seria melhor propor que, tanto as Casas de Cultura, quanto a gestão pública, pensem na possibilidade de formação de um Comitê de Acompanhamento, constituído por representações das Casas de Cultura e por representações da Secretaria de Cultura.

Esse Comitê se encarregaria de fazer o levantamento das necessidades e das perspectivas de soluções, porque às vezes existem soluções que não dependem do funcionamento interno da burocracia do Estado, "tem coisas que são mais fáceis e podem acontecer de outra maneira", argumenta Tiche Vianna. Para ela, "nada melhor do que as próprias Casas levantarem essas possibilidades, que são coisas que o tempo inteiro elas fazem, porque o tempo inteiro, para sobreviver, precisam encontrar soluções mágicas".

Muitas delas já funcionam com várias formas de garantir a sua preservação, afirma Tiche, argumentando que "podem acontecer muitas sugestões e a gestão pública perceber que é possível fazer. Então, um Comitê daria essa agilidade, essa garantia, essa participação, e ajudaria principalmente a falta de braços que a gente sabe que a gestão pública tem".

Cautela e diálogo
Encerrados os 15 Dias de Ativismo pela Cultura, "as novas ou outras atitudes" exigem calma, cautela e cuidado, conforme analisa Tiche Vianna, "porque a gente quer que chegue a todas as pessoas, que não seja só um setor". Ela conta que agora, na área da Cultura, está acontecendo o levantamento da memória da cena campineira e que, como perspectiva ou proposta, já existe o levantamento da memória das identidades culturais formadoras da cidade de Campinas.

No seu ponto de vista, o resgate da memória é importante porque, visitando o passado se compreende o presente e se propõe o futuro, e esse contato entre as linhas de tempo é fundamental "porque é isso que vai fazer com que as políticas públicas se desenvolvam e não se emperrem, ou não sejam trocadas a cada governo. É aqui que a gente estipula políticas públicas de Estado, seja qual for o partido político, seja qual for o gestor que esteja ali".

Em relação a ações que façam pressão sobre a Prefeitura, ela diz que o sentido não é de embate e cita o relacionamento positivo que o Conselho de Políticas Culturais está construindo junto com a secretária de Cultura e toda gestão executiva da Secretaria de Cultura. E completa:

"Então a gente precisa tomar cuidado também porque, às vezes, parece que tudo é um embate, parece que pressionar significa que nós estamos apontando o dedo na cara e dizendo alguma coisa com violência e, de fato, pressionar significa que, entre todas as coisas importantes, existe uma que não está ganhando a devida importância, e é fundamental porque é estruturante das relações".

Sobre este papel estruturante das Casas de Cultura, Tiche defende que esta é a razão da pressão, pois "territórios culturais devem ser preservados, são sagrados, porque significam as pessoas, significam aquilo que a pessoa tem de essencial, que vai fazer ela se juntar à essencialidade de outra pessoa, mesmo que seja diversa, para conquistar uma coisa só: a cidade e a sua melhor forma de viver nesta cidade".

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