Campanha salarial se arrasta desde maio; trabalhadores argumentam que a Sanasa teve lucro de quase 150 milhões em 2020, enquanto a empresa quer pagar 50% do reajuste em 2022 e 50% em 2023

Assembleia 05 11Auditório da IMA, que tem 590 lugares, ficou lotado e com muitas pessoas em pé na assembleia da sexta-feira, 05/11 - Foto: Sindae

Os trabalhadores da Sanasa aprovaram na última sexta-feira, 05/11, o estado de greve, onde deverão permanecer, em princípio, até a próxima reunião entre o Sindae e a Sanasa, que está marcada para o dia 11/11. A votação aconteceu na assembleia da categoria, realizada no Auditório da IMA, que contou com a presença de mais de 600 trabalhadores.

De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgoto de Campinas e Região (Sindae), a pauta de reivindicações aprovada pela categoria e entregue à Sanasa em meados de abril propõe o reajuste salarial pelo índice do INPC nas cláusulas econômicas.

Renan Roncolatto de Almeida, presidente do Sindae, diz que se trata apenas da reposição das perdas inflacionárias acumuladas em dois anos. "Como no ano de 2019 nós não tivemos reajuste, então, na pauta de reivindicações de maio desse ano, a gente está pedindo de abril de 2019 a maio de 2020 e de maio de 2020 a abril de 2021", diz Renan, destacando que, no total, o reajuste reivindicado fica em torno de 10%.

Na última reunião de negociação, no entanto, a Sanasa propôs um reajuste de 6,76%, sendo 50% a partir de janeiro de 2022 e os outros 50% a partir de janeiro de 2023, sem pagamento retroativo. Os vales Alimentação e Refeição teriam aumento integral de 6,76% a partir de janeiro/22. Já a PLR (Participação nos Lucros e Resultados) seria de 50% do índice de 6,76%, com a primeira parcela em janeiro/22.

Diferentes índices
O índice de 6,76% usado pela Sanasa se refere ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de maio/21, enquanto o Sindae faz seus cálculos usando o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) acumulado de abril/19 até abril/21.

O professor e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho, do Instituto de Economia da Unicamp (Cesit-Unicamp), José Dari Krein, explica que o IPCA calcula a inflação a partir de aspectos amplos da economia, incluindo os preços no atacado, enquanto o INPC reflete melhor a inflação que atinge a maioria da população.

"O INPC é o indicador histórico das negociações coletivas, porque este índice traduz melhor o custo de vida dos trabalhadores, já que calcula a inflação a partir de uma cesta de consumo das famílias que ganham de um a cinco salários mínimos", destaca o professor.

Na conta da pandemia
A data base dos trabalhadores da Sanasa é no mês de maio, mas as tratativas foram adiadas por meio de um acordo feito numa Audiência de Conciliação realizada no TRT-15 naquele mês, conforme conta o presidente do Sindae, Renan Roncolatto.

Nas reuniões de negociação ocorridas no período mais recente, a empresa chegou a propor zero de reajuste, com a alegação de não poder descumprir o decreto municipal nº 20.861, de 07 de maio de 2020, que veda "qualquer aumento de despesas de custos de pessoal decorrente de dissídios coletivos".

De outro lado, o Sindicato diz que não se trata de "aumento" e sim de recomposição do poder de compra dos salários diante do aumento da inflação. Outro argumento do Sindae é o de que a Sanasa não teve prejuízos durante a pandemia, muito pelo contrário: teve um lucro de quase 150 milhões de reais em 2020 (mais precisamente R$ 146.914.459,55, de acordo com o Relatório da Administração da empresa).

Para Renan, não há justificativa para não se fazer o reajuste dos salários imediatamente. "Aumentou o número de ligações de água nesse período. No primeiro trimestre da pandemia, como mostra o estudo, a empresa investiu 43% do que havia feito no ano anterior, em que não houve pandemia", informa.

Ele acrescenta que não se viu nenhuma medida da empresa para a população durante a pandemia que justifica essa postura. "Não ampliou a tarifa social e não deu tarifa zero para desempregados no município. Muito pelo contrário, cobrou pela média, o que justifica esse aumento no seu faturamento durante a pandemia", argumenta o sindicalista.

O que diz a Sanasa
Procurada pelo Informa Campinas, a Sanasa se pronunciou por meio do seu gerente de Comunicação, Marcos Lodi, com a seguinte nota:

"O estado de greve é um movimento sindical para deixar claro que as tratativas não estão avançando. Não prejudica o bom andamento da empresa, portanto, sem prejuízo aos nossos clientes".

"Sobre a negociação: sim, realmente esse impasse se deve ao decreto que dispõe sobre aumento de gastos em 2020/2021, ou seja, nesse momento de pandemia. Estamos vivendo um momento difícil para todos. O sindicato pede um reajuste de 10%".

(Matéria atualizada às 22h30, para ajustes no texto e correção no índice proposto pela Sanasa para 6,76%, em vez de 6,59%, como constava anteriormente).