Área de ocupação com 108 famílias, na região do Ouro Verde, precisa da sede para atividades organizativas da própria comunidade, além de ações assistenciais, educativas e culturais

Mandela campanha 07 11Comunidade está, há quatro anos e meio, na área próxima ao aeroporto de Viracopos - Foto: Reprodução (página da campanha)

"Uma das paredes já caiu e o teto está para cair", conta a moradora Ana Regina Ribeiro do Vale no vídeo da Campanha #MandelaTemSede. Ela diz que os alimentos recebidos como doação não podem mais ficar na sede: "não temos mais condições de receber nada na nossa sede".

A comunidade já vinha fazendo arrecadações junto a grupos de apoio e também bazares para angariar recursos com o objetivo de fazer reformas e melhorias na sede. Mas, com os danos causados pelas últimas chuvas e ventanias, viu que será necessário reconstruir toda a estrutura da casa. Como a sede é um espaço fundamental para a própria manutenção da comunidade, a campanha, pela plataforma Catarse, tem visa agilizar e aumentar a arrecadação.

Além das atividades assistenciais, a casa da comunidade também é o espaço necessário para as reuniões, cursos, oficinas, entre outros usos, como explica, na divulgação da campanha, uma das coordenadoras da Ocupação Nelson Mandela, a Thamires Batista Gomes Ramos (Foto: Reprodução - vídeo no canal da Comunidade Mandela no Youtube)

Mandela campanha 2 07 11

"Hoje, a gente está aqui para falar do coração da ocupação, que, além das pessoas, é onde a gente constrói a nossa luta, que é a sede. Esse espaço é muito importante, porque a gente faz tudo aqui, as nossas assembleias para se reorganizar, para informar a população, é o espaço em que a gente faz formação. Aqui, antes desse período da pandemia, a gente tinha alfabetização dos jovens e adultos, ciranda com as crianças e mais outras atividades, como a formação política".

Com a nova sede, conforme destacam os moradores na campanha, será possível realizar também outras atividades, "projetos que estão pendentes por falta de um espaço físico apropriado, como oficinas de panificação e estamparia para geração de trabalho e renda; atendimentos médico e odontológico para as famílias; atividades culturais e artísticas, apresentações musicais, teatrais, debates, cursos, oficinas e atividades lúdicas para as mais de 100 crianças da comunidade".

Lançada na última quarta-feira, 03/11, na plataforma Catarse, a Campanha #MandelaTemSede vai até o dia 11 de dezembro. Entre os grupos e instituições que estão apoiando a campanha, estão as Brigadas Populares, o Núcleo da Economia de Francisco e Clara da Arquidiocese de Campinas, o Móbile Arquitetura UNICAMP (Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo da Unicamp) e o Coletivo Dínamo de Engenharia Popular.

Projeto e orçamento
Feito de forma colaborativa, a elaboração do projeto da nova sede contou com a participação do Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo Móbile da UNICAMP, do Coletivo de Engenharia Popular Dínamo e de trabalhadores da construção civil que moram na Ocupação.

Mandela campanha 4 07 11Foto: Reprodução - vídeo no canal da Comunidade Mandela no Youtube

Quanto à mão de obra para a construção, também será colaborativa, por meio da realização de mutirões dos próprios moradores, de membros das instituições apoiadoras e de outras pessoas que possam participar. A previsão é de que a partir de janeiro, os mutirões passem a acontecer nos finais de semana.

Os recursos já arrecadados na primeira semana de campanha, mais de oito mil reais, são suficientes para se completar a primeira etapa da obra, que está orçada em cinco mil e dará conta da estrutura das paredes e da cobertura.

Falta ainda um pouco para fechar o orçamento da segunda etapa, que prevê o uso de mais cinco mil reais na construção de "divisórias internas e bancadas de trabalho, possibilitando a criação de uma brinquedoteca para as crianças, um depósito para guardar os mantimentos e doações dos apoiadores e proporcionar maior conforto para as reuniões e oficinas nas bancadas de trabalho".

Se a arrecadação avançar, chegando aos 15 mil reais, será possível, segundo o projeto, "também equipar a cozinha para realizar uma oficina de panificação e comprar os equipamentos para a estamparia, que ajudariam a gerar trabalho e renda para a comunidade".

Chegando-se ao objetivo final da campanha, que é o de arrecadar um total de 20 mil reais, então o "coração da ocupação" poderá bater plenamente, pois estarão viabilizados também o parquinho para as crianças, uma área externa para atividades culturais e uma "fossa ecológica", para melhorar a estrutura do banheiro.

Cinco anos de resistência
Segundo Thamires, a Comunidade Mandela já tem uma história de cinco anos, "cinco anos de resistência" a partir da primeira ocupação, na região do Capivari, em 2016.

"Eram 600 famílias lá, mas infelizmente, em 2017, a gente sofreu uma reintegração muito truculenta, as famílias perderam tudo. O dia foi um dia assim que, quando a gente lembra, é com muita tristeza, porque parecia um dia de guerra, um momento de guerra, muitos policiais, uma coisa que a gente nunca viu, nunca vivenciou na nossa vida", relata Thamires.

A coordenadora conta que, hoje, passados quatro anos e meio "de resistência" na área do Ouro Verde, próxima ao aeroporto de Viracopos, as 108 famílias que vieram para este local conseguiram "montar os seus barracos, recuperar os seus móveis, que foram perdidos no dia da reintegração e se recompor psicologicamente, porque aquilo ali foi traumatizante para os adultos e para as crianças".

Mais informações
Campanha #MandelaTemSede
Página da comunidade no facebook