Lançada horas antes na Europa, apresentação da novidade no Brasil é destacada como "feito histórico para as línguas indígenas"

Wilmar Projeto Motorola 25 03Professor Wilmar D’Angelis coordenou a equipe do Projeto Jupy Motorola - Foto: Reprodução - vídeo no canal da Kamuri

A ONG Kamuri - Indigenismo, Ação ambiental, Cultura e Educação divulgou nesta quinta-feira, 25/03, que a empresa Motorola lançou três modelos de aparelhos celulares (moto g10, moto g30 e moto100) com a opção de funcionamento nas línguas Kaingang e Nheengatu. Outros modelos também podem ganhar essas opções, se o sistema operacional for atualizado para a versão 11 do Android.

"Hoje, dia 25 de março, é um dia importante na história das lutas pela sobrevivência dos povos originários do Brasil. Pela primeira vez, em todo o continente americano, duas línguas indígenas foram introduzidas na configuração de um smartphone, com todas as suas particularidades fonológicas e ortográficas, incluindo assim um contingente de milhares de pessoas que poderá agora se comunicar por celular, também por escrito, em sua própria língua materna", comemorou a Kamuri, em publicação no site da entidade.

A inclusão das línguas na configuração dos smartphones foi possível graças a uma parceria com a equipe de pesquisa em Línguas Indígenas da Unicamp (Grupo InDIOMAS), coordenada pelo professor Wilmar D’Angelis, co-fundador da Kamuri. Além do Grupo de Pesquisa do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL-Unicamp), onde Wilmar é professor, o trabalho também contou com a participação da Kamuri na organização e condução do processo.

"É resultado de um trabalho intenso, dedicado, difícil, que durou oito meses para fazer todo o processo de seleção, preparação e treinamento dos tradutores, tradução das milhares e milhares de palavras, ordens, comandos, instruções, tudo que está no smartphone, e agora ele está disponível, está sendo lançado hoje", destacou o professor.

De acordo com Wilmar, a equipe do Projeto Jupy Motorola foi composta por quatro tradutores Kaingang e quatro tradutores Nheengatu, além de dois professores universitários do Amazonas que atuaram junto com ele como revisores: Michéli Carolíni de Deus Lima Schwade, do Instituto Federal do Amazonas (Ifam) e Mateus Coimbra de Oliveira, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Os tradutores e tradutoras da língua Kaingang são da área indígena de Guarita, no norte do Rio Grande do Sul: Sueli Krengre Cândido, Miguel Rarĩr Ribeiro, Selvino Kókáj Amaral e Roselaine Emílio. Na língua Nheengatu, os/as tradutores/as que trabalharam no projeto foram: Edison Cordeiro Gomes e Lusineia Albino de Menezes, do Alto Rio Negro; Ozias Yaguarê Yamã G. de Oliveira Aripunãguá, falante da língua em Nova Olinda, na região do Médio/Baixo Amazonas; e Cauã Nóbrega da Cruz, do Baixo Tapajós, que é também aluno da Unicamp.

A língua Nheengatu é falada em várias regiões do Amazonas, especialmente no Alto Rio Negro, no médio e baixo Amazonas e no baixo Tapajós. Já o Kaingang é falado no Sul do Brasil por grandes comunidades indígenas: "um povo que é o terceiro maior povo indígena no Brasil, e o Kaingang é o terceiro [idioma] com maior número de falantes no Brasil", explicou Wilmar no vídeo de lançamento do trabalho.

O professor Wilmar D'Angelis coordenou, em 2019, o XI Encontro sobre Leitura e Escrita em Sociedades Indígenas (XI ELESI), evento nacional realizado na Unicamp. Na ocasião, foi lançado o livro "Revitalização de línguas indígenas: o que é? como fazemos", de sua autoria, que traz "reflexões teóricas e relatos de experiências reais em projetos de revitalização de línguas indígenas no Estado de São Paulo". Para ele, o lançamento desses aparelhos celulares agora é "uma forma de reconhecimento, visibilidade e fortalecimento das línguas indígenas, começando por esse exemplo que é das línguas Kaingang e Nheengatu".

Veja também
Entrevista com o professor Wilmar D'Angelis, no site da Kamuri: Projeto inédito cria configuração de smartphone em Kaingang e Nheengatu
Vídeo de lançamento, no Youtube: Smartphones em Kaingang e Nheengatu
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