Cinco pessoas produzem conteúdo e administram, diariamente, a comunicação da ONG em quatro redes sociais, site/blog e newsletter

Instagram Kamuri 01 09Instagram é a rede com que a ONG mais trabalha atualmente - Imagem: Divulgação | @kamuri.indigenismo

"Ainda temos muitos mitos em relação aos povos indígenas brasileiros no senso comum, é muito importante dar visibilidade para a causa e para os próprios indígenas, para que falem por si também", diz Beatriz Toledo, que trabalha como voluntária na ONG Kamuri - Indigenismo e Sustentabilidade desde 2016, atuando na equipe de comunicação desde 2018.

Com cinco pessoas atualmente, a equipe trabalha em conjunto na produção e publicação de conteúdos no Instagram, página no Facebook, Site/Blog Institucional, YouTube e Linkedin, além de uma newsletter mensal, em português, inglês e francês, que é enviada aos assinantes e também fica disponível no site.

"Todas as propostas - de arte, de tema ou de estrutura da atividade - são discutidas pela equipe toda", conta a jornalista Maria Cecília Porto, coordenadora da equipe. Mas há uma divisão interna de tarefas, com cada um cuidando de uma página, diz ela, sendo que o Instagram é a rede em que a equipe coloca mais esforços atualmente, com produção diária de conteúdos e maior interação com o público.

Maria Cecília explica que as diferenças, em termos de formação e mesmo de idade entre os membros da equipe, têm funcionado como um elemento agregador. "Por termos maneiras diversas de ver e avaliar os fatos, e ideias diferentes na maneira de abordá-las, acabamos por aprender muito uns com os outros. Isso é fundamental, quando lidamos com uma realidade complexa e dinâmica, como a política indigenista e o ambientalismo".

Trabalho coletivo
Apesar de a Kamuri existir desde 2006, a equipe de comunicação se formou só no ano passado. Até então, havia apenas o site e a página de Facebook, que ficavam sob a responsabilidade de Beatriz Toledo e Pedro Ternes. "Com o boom do Instagram e a queda do uso do Facebook, entre 2019 e 2020, sentimos a necessidade de migrar para a nova rede, foi quando surgiu a equipe de comunicação", lembra Pedro.

A formação da equipe de comunicação também contou com outro fator importante para a sua viabilidade: a ampliação do número de voluntários, incluindo a chegada da jornalista Maria Cecília, como relata Beatriz: "em 2020, conseguimos ampliar os voluntários para a área de comunicação e a investir mais no nosso Instagram".

Hoje, além de cuidar dos conteúdos e atualizações no site institucional junto com o Pedro e de fazer a arte e formatação da newsletter, Beatriz trabalha com Maria Eugênia na produção de conteúdo para o Instagram. Maria Eugênia é a participante da equipe que tem mais tempo de Kamuri, entrou em 2013.

"Como temos posts todos os dias da semana, a produção é mais intensa e, hoje, ela [Maria Eugênia] fica responsável pela maior parte dos posts do feed, e eu fico mais focada em posts para os stories e interação com o público, respostas de mensagens", destaca Beatriz.

Ela conta também que, no caso de campanhas pontuais de arrecadação, como as do SOS Tikunas e SOS Munduruku, "todos ajudam na divulgação e no planejamento". Quanto à newsletter mensal oferecida pela Kamuri, o trabalho de pesquisa e escrita é da Maria Cecília, e as versões traduzidas são também da Maria Cecília (inglês) e da Maria Eugênia (francês).

Os conteúdos
Entre os posts que atualizam os/as usuários/as sobre o que está acontecendo com os povos indígenas e com o meio ambiente no Brasil, várias "séries" vão informando e formando a percepção e o pensamento por meio das redes sociais, principalmente do Instagram. Povos brasileiros (história), Direito para indígenas, Topônimos (origem e significado de nomes indígenas em cidades, bairros, rios etc), Quem é (apresentação de lideranças dos povos indígenas) Quarta verde (curadoria de notícias sobre questões indígenas e ambientais), Curiosidades linguísticas e Fim de Semana cultural (indicação de livros, filmes, podcasts, músicas) são algumas das séries produzidas pela equipe de comunicação.

"Algumas ideias partem de temas do momento ou de demandas específicas - como a série informativa sobre vacinação, ou a série de notícias. Outros temas estão ligados à linha de ação e às especialidades da Kamuri, como os posts de linguística, já que trabalhamos com projetos de língua e grande parte da nossa equipe é de linguistas", revela Maria Cecília.

Na newsletter, os acontecimentos mais recentes, que estão mobilizando ativistas e seguidores, indicam os principais assuntos a serem tratados. Mas, segundo Maria Cecília, o boletim também incorpora "algumas notas sobre cultura indígena em geral e eventos que estão para acontecer, lançamentos de podcasts ou filmes e palestras e que podem ser do interesse dos nossos leitores". E, para manter os/as leitores/as atualizados, traz ainda uma resumo de matérias selecionadas da mídia sobre indigenismo e meio ambiente.

Mas, fora a newsletter, os conteúdos não são, necessariamente, relacionados com o momento, diz a coordenadora. "Muitas ideias de séries também surgem espontaneamente, às vezes partindo de curiosidades de pessoas da equipe ou de nossos seguidores nas redes sociais. Buscamos produzir conteúdos que percebemos ser do interesse dos seguidores para gerar maior engajamento e promoção da Kamuri, a fim de que tenhamos sempre mais voluntários e possíveis colaboradores".

Resultados
E o trabalho já começou a dar resultados positivos. Para Pedro Ternes, a mudança de rede social prioritária, do Facebook para o Instagram, trouxe uma ampliação do público: "vejo que essa mudança de rede social foi importante para conseguirmos alavancar a Kamuri, torná-la mais conhecida e atingir novos públicos".

De acordo com Maria Cecília, a maior parte do público da Kamuri está no Instagram e no Facebook, sendo principalmente pessoas de 25 a 44 anos, a maioria mulheres (cerca de 65%), conforme revelam os dados destas plataformas. Estes números indicam uma possível correspondência de público entre as atividades chamadas online e offline.

"No Instagram, temos mais engajamento de jovens e pesquisadores, que são, de certo modo, nosso público mais imediato também fora das redes, já que a maior parte das ações da Kamuri se desenvolve com parcerias com a universidade [Unicamp] e que seus membros estão quase todos envolvidos em trabalho acadêmico", analisa Maria Cecília.

Quanto aos resultados das ações de comunicação, ela avalia que são positivos no que diz respeito tanto ao crescimento do público que acompanha os conteúdos nas redes sociais quanto ao interesse em participar da Kamuri. "Depois de intensificar os trabalhos na comunicação, tivemos mais interessados em participar da ONG, recebemos mais contatos de pessoas que gostariam de ajudar, e isso nos deixou muito contentes".

Dentro de pouco mais de um ano, segundo ela, foi possível notar "não apenas um aumento dos seguidores, mas também da interação com eles através de compartilhamentos, respostas, mensagens, dúvidas e até mesmo críticas ou correções. Não temos a sensação de estarmos postando para o vazio".

Lições da experiência
Com base no trabalho que vem sendo desenvolvido pela equipe de comunicação da Kamuri, algumas dicas e sugestões podem ser dadas a outras entidades, grupos e movimentos sociais. A primeira e mais importante, segundo Maria Cecília, é a dedicação ao trabalho com as redes sociais.

"Estar presente nas redes sociais e no meio digital hoje é essencial para que o trabalho da organização seja visto. Sem uma presença digital, fica praticamente impossível a divulgação da Ong para públicos mais amplos. Então, se puder investir nessa área, não há dúvidas que isso trará um retorno positivo".

Mas é preciso ter em vista que este é um trabalho bastante exigente em termos de tempo e disciplina dos envolvidos: "para termos resultados no Instagram, por exemplo, foi necessário que a equipe passasse a se dedicar diariamente à rede, com conteúdos e interação diária, muitas vezes postamos mais de um conteúdo por dia", ressalta a coordenadora da equipe da Kamuri.

Se este trabalho for feito por voluntários/as, vai uma dica: dividir tarefas. "No caso da Kamuri, como somos todos voluntários, procuramos nos dividir entre as tarefas, para não sobrecarregar nenhum de nós e mesmo assim conseguir uma boa frequência de produção de conteúdo e interação em nossas redes e site".

Para grupos de comunicação, a orientação é no sentido do investimento numa "atividade comunicacional dialógica e dinâmica, que abra caminhos de participação e de escuta de outros atores, que se mantenha aberta a novos aportes, visões e opiniões de fora da equipe, para que esta possa se renovar e se atualizar sempre".

E, se a equipe de comunicação quer crescer e se tornar "mais útil e presente no cenário nacional e internacional", as "leituras e contatos com outras entidades e vários meios de comunicação são também necessários", finaliza Maria Cecília.

Quem faz a comunicação da Kamuri
Duas integrantes da equipe são profissionais de comunicação e outros/as três têm formação na área da linguística. Com exceção da coordenadora, a jornalista Maria Cecília Porto, todos os demais vieram de cursos de graduação e/ou pós-graduação no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, onde atua um dos fundadores da Kamuri, o professor Wilmar D'Angelis, agora aposentado.

Maria Eugênia Gonçalves começou a participar da Kamuri em 2013, como voluntária no Projeto de Revitalização Linguística na aldeia Nimuendaju. "Comecei entrando mais por interesse acadêmico, e acabei aprendendo bastante sobre as causas indigenistas e me engajando nela por reconhecer sua legitimidade e também sua necessidade política e social".

Beatriz Toledo veio para a Kamuri em 2016, para participar da elaboração do dicionário Kaingang Paulista. "Foi meu primeiro contato com a comunidade Kaingang e com o trabalho em campo. Na época, eu estava na graduação em linguística, elaborando meu projeto de iniciação científica. Desde então, participei de outros projetos e, em 2018, comecei a atuar mais especificamente na área de comunicação para a Kamuri, cuidando da página no Facebook".

Arthur Antunes começou na Kamuri em 2018, "por conta de uma disciplina na graduação, com o projeto de revitalização linguística do Terena, coordenado pelo professor Wilmar. Até então, desconhecia os tantos discursos e problemáticas que circundam as populações indígenas, e foi esse contato mais próximo que me serviu de estopim para engajamento na ONG. Nela, encontrei pessoas incríveis e que realmente se importam com essas populações".

Pedro Ternes se envolveu com a Kamuri em 2016, quando iniciou um trabalho com a comunidade Krenak em SP, no âmbito da sua pesquisa de Iniciação Científica. "Com o passar dos anos, acabei me engajando mais nas atividades da ONG. Considero de grande importância esse trabalho de divulgação (tanto da ONG quanto de informações a respeito dos povos indígenas e do meio ambiente), uma vez que a informação da sociedade civil é o primeiro passo para buscar apoio a movimentos sociais, como é o caso da luta indígena no combate à violação de seus direitos".

Maria Cecilia Porto é a voluntária que está há menos tempo na Kamuri: entrou em outubro de 2020. A jornalista, Mestre em Antropologia e Doutora em Ciências da Comunicação, diz que seu objetivo pessoal "é ajudar a dar visibilidade a dois aspectos principais da realidade indígena no País: a riqueza e diversidade de seus modos de vida (com os quais temos muito a aprender), e a sua luta infindável pela existência, desde os tempos coloniais, acirrada agora no governo Bolsonaro".

E mais: "em outro momento (após o final da pandemia), pretendo participar de um processo de capacitação de mulheres e jovens indígenas para que eles próprios assumam a divulgação de seus trabalhos e ideias, contribuindo assim para uma maior autonomia dos povos ancestrais sobre a sua própria voz e versões dos fatos".

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